É culpa da natureza os desmoranamentos no Rio de Janeiro?

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Desmoronamento

EM DIVERSAS OCASIÕES, quando chove muito, a cidade do Rio de Janeiro sofre verdadeira tragédia: desmoronamentos, desabamentos e inundações causam sofrimento e morte, principalmente nas áreas mais pobres. Muitas pessoas acreditam que esses males são causados por adversidades da natureza, no caso o relevo montanhoso e as chuvas excessivas.

No entanto, se examinarmos a questão com cuidado, veremos que as verdadeiras causas são de outro tipo.

Analisando bem...

Cerca de 10% do território municipal do Rio de Janeiro é constituído pelo maciço da Tijuca. Trata-se de um bloco de morros, isolados da serra do Mar, que apresenta vigorosas e belíssimas formas de relevo: pontões como o Corcovado (704 metros de altitude), picos como o da Tijuca (o ponto culminante, com 1021 metros de altitude). paredões escarpados como o Pão de Açúcar (309 metros) e mesas abruptas como a Pedra da Gávea (405 metros).

Originalmente, o maciço da Tijuca era coberto pela Mata Atlântica, que aos poucos foi sendo destruída para dar lugar ao povoamento. O desmatamento foi quase total na vertente interiorana do maciço, onde hoje se localizam bairros como os de Santa Tereza, Grajaú e Cascadura, que fazem parte da zona norte da cidade.

Na vertente litorânea ou atlântica, que dá para as praias da zona sul e a parte nobre da cidade, a vegetação foi em grande parte preservada, pois sua ocupação se deu mais tarde, por uma população de melhores condições financeiras.

Essa diferença na forma de ocupação do espaço natural tem conseqüências também diferenciadas. Na vertente litorânea do maciço e na parte sul da cidade, as chuvas não provocam tanto danos pois a cobertura vegetal absorve boa parte da água, como se fosse uma esponja.

As lagoas existentes nas baixadas, como a Rodrigo de Freitas e a Marapendi, também servem para amenizar as enchentes.

Por outro lado, na vertente interiorana, onde vive hoje mais de um milhão de pessoas, a ausência da antiga floresta faz com que a água desça livremente das encostas e se acumule nos vales, agora impermeabilizados pelo asfalto. Outrora havia nessas baixadas, lagoas e manguezais, que continham naturalmente a água.

Como a grande maioria da população pobre da cidade vive na zona norte, parte dela ocupa todos os lugares mais vulneráveis das encostas e das baixadas, podemos avaliar os estragos causados pela intensidade das chuvas: desabamentos, enchentes e mortes.

De quem é a culpa?

As tragédias do Rio de Janeiro, portanto, tem causas muito mais humanas do que naturais.

Em primeiro lugar, a pluviosidade excessiva é pelo menos em parte, conseqüência da ação da destruição do homem sobre a natureza. Com o desmatamento de extensas áreas, a circulação da água se altera a tal ponto que se modifica o regime de chuvas: a pluviosidade bem distribuída de antigamente cede lugar a períodos relativamente longos de estiagem, intercaladas por épocas de chuvas intensas.

É quando essas chuvas se tornam mais fortes e prolongadas que acontecem os lamentáveis desastres.

Em segundo lugar, os efeitos das chuvas viram tragédias por causa do tipo de sociedade em que vivemos. Devido ao baixo salário que os trabalhadores geralmente recebem, milhares de pessoas são obrigados a residir nas piores localidades da cidade, aqueles que foram deixados de lado pelos que tem melhores condições financeiras. Formam-se assim as favelas de casebres muito precários, localizados nos locais mais arriscados dos morros e das baixadas inundáveis.

Portanto, atribuir à natureza a responsabilidade pelos efeitos catastróficos das chuvas, por mais inesperadas e intensas que sejam, é esconder a causa essencial do problema, que é de ordem humana e social.

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